Blog temporariamente (e provavelmente permanentemente) fora de uso. Favor ir para o http://intransigenciaflexivel.blogspot.com/

quarta-feira, 24 de junho de 2009

Classificados.

Procuro acompanhante chata, senso de humor zero. Não deve ser bonita, nem feia. Não deve saber dançar ou cantar. É fundamental que não possua muitos conhecimentos literários, não conheça muitos filmes e esteja alienada dos fatos cotidianos. É imprescindível que não possua uma boa condição financeira. Não deve, também, ser fã de esportes ou de espetáculos culturais. De preferência, que não seja de falar muito, mas que também não seja quieta. Não deve ter olhos azuis, verdes, castanhos, cor-de-mel, cinzas ou pretos. Não pode ser alta, mas também não pode ser baixinha. Nem madura, nem inexperiente. Nem nova, nem velha. Mulheres passivas e de atitude também não interessam.

Enfim, tem tanta gente interessante no mundo, tanta gente que dança, canta, atua, corre, pula, joga, rouba, ganha, pinta, fala, ouve, aconselha, estuda, encanta, beija, chupa, dá e trepa, que eu fiquei indiferente a elas. Hoje está tão difícil de encontrar alguém que não seja interessante que o que realmente me interessa é o que não tem graça alguma.

quarta-feira, 17 de junho de 2009

Introspecção.

Finalmente me sinto seguro. Aqui dentro as coisas me parecem bem melhores do que costumavam ser. A vida passa seguindo seu próprio rumo, sem distrações, sem perturbações.

Dizem que assim eu perderei o mehor da vida. Dizem que eu perderei a luz. Mas a luz me incomoda mais que tudo. A luz arde os olhos e me faz enxergar. Não, no escuro é mais seguro. Dizem que eu perderei o amor. Mas quem precisa de amor quando a moça da tevê diz coisas tão doces e bonitas, mesmo que não sejam para mim. Dizem que eu perderei os amigos. Mas quantos amigos pro lado de fora eu já não perdi? As contas eu sei, já perdi.

Enfim, me sinto melhor aqui dentro. Fechado aqui eu não corro risco algum. Pode não parecer muito divertido, e talvez nem seja mesmo, mas aqui me sinto satisfeito e aquecido. Funciona parecido com um útero materno, e sejamos sinceros: quem não chorou quando forçaram nossa saída para esse mundo? Se viver esse mundo fosse tão bom, nossa primeira reação seria o riso, não o choro!

Portanto eu estou bem aqui, no meu útero artificial, no ventre da minha consciência, protegido do mundo de fora. O escuro me faz bem aos olhos, o silêncio me faz bem aos ouvidos e a solidão cai como uma luva no meu coração.

domingo, 14 de junho de 2009

Áries

Altivo caminhava, ao início de sua jornada
Trilhava um caminho muito árduo e sinuoso
Que a vales profundos e montes altos levava.

Confiante ia, como que se uma voz de veludo
Lhe beijasse os ouvidos, compensando o esforço
E lhe prometesse recompensas por isso e por tudo.

Soberano era, majestoso cordeiro de ouro no céu,
Pomposo em sua divina autoridade, quase esnobe,
Por fim possuía lugar marcado no banco dos réus.

Em cacos estava, após ser por tanto tempo adorado
Aí estava a recompensa por seu esforço nada nobre
Por aqueles que um dia lhe prestaram glórias,
amaldiçoado.

Humilhado retornava. Oh! Ariano tolo! Aprendeste
Só agora que da verdade só se tira novas dúvidas
E que após a vitória não receberás os louros.


[Áries, Afonso Henrique, 26/01/09]

sábado, 13 de junho de 2009

Monocromia.

Cinza. O dia amanheceu cinza. Tudo estava cinza. Cinza da cor da fuligem. Cinza da cor da neblina que cobria o dia. Cinza da cor da fumaça dos cigarros e da pele dos fumantes. Cinza da cor dos automóveis, dos edifícios. É difícil, acredite. O cinza tomou conta do ar, das roupas, das ruas. O cinza estava presente nos olhares, nos pensamentos, nas memórias. O cinza era um só com os corações.

Mas d'onde veio esse cinza? até ontem ele não estava aí! Será que ele veio das fábricas? Ou talvez tenha vindo das casas. Da lenha que espanta o frio, talvez? Quem sabe não choveu cinza a noite toda enquanto eu dormia? Possível, por que não?! Provável, não sei dizer. Ele pode ter vindo pelo ar, e então não seria bom nem respirar. Talvez o cinza tenha vindo de fora. Talvez o cinza tenha vindo de dentro. De mim.

Bom, mas de que adianta o cinza? De que adianta saber d'onde o cinza veio e pr'onde vai? Talvez se eu dormir agora, amanhã o cinza tenha ido embora. É isso! Vou dormir agora. Afinal, enquanto eu tento entender o cinza, a negra noite se desenrola e amanhã é dia de branco.